A lida do homem do campo. O forró. O jogo de sinuca em uma mesa de bar. Mulheres lavando roupa. Os meninos malabaristas no semáforo. O catador de papel. O submundo que compõe as paisagens urbanas: violência, drogas, pornografia, prostituição. O lado sombrio da vida e do homem. O cotidiano da vida simples, com suas luzes e sombras, inspira o artista plástico João Werner.
É a poesia escondida nas cenas do dia a dia que o paranaense de Bela Vista Vista do Paraíso retrata em suas obras. “Vivi toda a minha primeira infância na roça, em uma fazenda de café. Apanhei goiabas e jabuticabas no pé. Corri atrás de galinhas pelo terreirão e bebi a água cristalina da fonte, amparada na folha da bananeira”, recorda-se.
Em quase 40 anos de carreira João Werner já trabalhou com os mais diversos materiais e técnicas: madeira, gesso, ferro, óleo, aquarela, pastel, nanquim, escultura, pintura, gravura, desenho, serigrafia. Há pouco mais de 10 anos, o artista tem se dedicado à arte digital. Os quadros digitais de Werner estão muito próximos das telas. “A arte digital não substituirá a tradicional. Como sempre na história da arte, as técnicas convivem, dialogam umas com as outras. A arte digital também traz uma série de exigências – os softwares de pintura estão muito sofisticados; simulam uma grande variedade de ferramentas artísticas. Você precisa trabalhar com papéis de alta qualidade, impressora especializada”, pontua Werner.
Com a internet, as obras do artista plástico ganharam visibilidade internacional. Em 2007, participou da 6ª Biennale Internazionale della Arte Contemporanea de Firenze, Itália, expondo pinturas digitais. Em 2008, recebeu o 3º Prêmio na modalidade de Gravura da 1ª Bienal de Arte Contemporânea da Universidade de Chapingo, México, “Arte com raiz em la Tierra”, também com pinturas digitais. João Werner também teve obras expostas em Los Angeles e em Nova York.
Início da carreira em Ibiporã
João Werner tem uma forte ligação com Ibiporã. O começo da carreira artística, em 1.982, foi na Casa de Artes e Ofícios Paulo VI, onde funcionava o ateliê do artista sacro Henrique de Aragão. “Quando voltei do Exército estava meio perdido, sem saber o que fazer da vida. Aí meu pai comentou com a minha mãe que em Ibiporã tinha um artista “meio doido”, chamado Henrique, e o que ela achava de me levar lá para conhecê-lo. Comecei fazendo um curso de entalhe em madeira. O Henrique gostou do meu trabalho e três meses depois me encomendou um painel grandioso em cedro para a casa dele. Acabei morando por cinco anos com o Henrique. Ele era uma pessoa muito generosa. Além de aprender as técnicas, ele permitia que os alunos o ajudassem em suas obras. No ateliê, aprendi as técnicas da escultura em cimento, entalhe em madeira, escultura forjada em latão e pintura acrílica”, relembra Werner.
Algumas obras de João Werner estão em Ibiporã, como o painel em madeira entalhada “Alegoria à Vida do “Lugar Sem Nome”, feito para a casa de Henrique de Aragão e que se encontra na Casa de Artes e Ofícios; e a escultura "Cristo Morto". Trata-se de uma escultura feita em madeira de Kiri para ornamentar a Igreja Matriz de Ibiporã a pedido do padre João Giomo (então pároco da cidade nos anos 1980) e hoje pertence ao acervo do Museu Histórico e de Artes de Ibiporã (MHAI), compondo parte do espaço de exposição. No acervo da Casa de Artes, encontram-se peças que João Werner e Henrique de Aragão fizeram em conjunto, como “Ícaro Resgatado”, na qual Henrique fez a escultura em metal, e Werner a parte do entalhe em madeira.
João Werner é graduado em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina em São Paulo, cidade onde obteve, também, o grau de Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Lecionou em São José dos Campos e Londrina, onde vive e trabalha.
Tem nove livros publicados, sendo dois deles de teoria da arte visual: "Ensaios sobre Arte e Estética" e "A figura na Comunicação Visual". Como crítico de arte, publiquei mais de 70 artigos no jornal Folha de Londrina.
Sobre o seu processo criativo, resume. “É a empatia que me move. Você ter um coração aberto. O sofrimento me emociona, e eu tento passar isso para as telas. A minha temática é a do homem humilde, que está sempre no fim da fila. Nas minhas obras eu quero mostrar que estas pessoas também existem. Este é legado que eu gostaria de deixar”, conclui o artista plástico.
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